31 janeiro 2016

Faturamento de Nassif e Amorim esconde que monopólios controlam recursos publicitários do governo

O leitor Humberto Sá Telles pergunta: “Não é um absurdo o governo da presidente Dilma Rousseff pagar uma fortuna para blogueiros, como Luís Nassif (5,7 milhões de reais) e Paulo Henrique Amorim (2,6 milhões de reais), defendê-lo?”

Os críticos mencionam mais Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim — porque fazem uma defesa articulada do governo petista e uma crítica corrosiva das oposições, notadamente do PSDB, e de seus defensores —, mas dezenas de outros blogueiros recebem verbas públicas do governo petista (e de outros governos, alguns não-petistas). Os blogs dos dois jornalistas mais criticados pelo menos têm audiência. Há outros que quase não têm audiência, mas recebem recursos dado o alinhamento político.

Mas o grosso dos recursos fica mesmo com os “monopólios”, como Grupo Globo (TV Globo, “O Globo”, “Época”), Editora Abril (que publica “Veja” e “Exame”) e “Folha de Paulo” (o grupo tem outras publicações e dirige o UOL e, em associação com parte da família Marinho, o jornal “Valor Econômico”). “CartaCapital”, cujo diretor de redação, Mino Carta, é profundamente identificado com o governo petista e com os principais líderes do partido, sobretudo com Lula da Silva, recebe muito dinheiro, mas nada equivalente aos grandes grupos.


Fica-se com a impressão de que, ao contrário do governo de Fernando Henrique Cardoso — que priorizava os grandes grupos econômicos, daí ser o queridinho das redes de televisão e dos jornais e revistas de Rio e São Paulo —, o PT democratizou a distribuição dos recursos publicitários. De fato, os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff repassaram recursos para mais publicações, mas isto não significou necessariamente uma democratização. A maioria do dinheiro continua sendo distribuída para as publicações que não aceitam, de maneira alguma, a democratização da publicidade e dos recursos, considerando, por exemplo, regiões. A “Folha de S. Paulo”, mesmo com a internet, não é um jornal nacional, ao contrário do que propala. Em Goiás e no Mato Grosso, para citar dois Estados, não é o meio de comunicação mais importante. Mas os jornais dos dois Estados, mesmo com forte circulação e amplo acesso na internet, raramente são contemplados com verbas federais (mesmo com migalhas) destinadas à comunicação.


Por fim, respondendo diretamente à pergunta do leitor, absurdo não é o faturamento de Luís Nassif e Paulo Henrique Amorim, e sim a concentração da maioria dos recursos públicos da área de comunicação nas mãos de quatro ou cinco grandes grupos. O PT, na prática, não teve coragem de romper com os monopólios, que sempre publicam reportagens sobre o assunto, ressaltando que há blogs com faturamento “alto” mas com baixa audiência (a audiência, em alguns casos, é crescente, ainda que certos blogs “preguem” para convertidos saírem repercutindo as boas novas nas redes sociais), com o objetivo de manter o controle do dinheiro destinado à comunicação dos atos do governo. Não há nenhuma preocupação com moralidade ou ideologia. É puro business, e dos mais agressivos. Luís Nassiff e Paulo Henrique Amorim, ainda que exagerem na defesa do governo petista e nas críticas aos tucanos, são uma gota d’água no oceano…

Postado originalmente no Jornal Opção

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